O empossamento da X Legislatura da Assembleia da República de Moçambique, representa não apenas um marco no ciclo político do País, mas também um desafio crucial para a consolidação democrática, o desenvolvimento socioeconómico inclusivo e a construção de uma instituição credível aos olhos dos cidadãos. O momento ocorre num contexto marcado por tensões políticas, instabilidade social e exigências crescentes por maior transparência e eficácia na governação, que não podem ser negligenciados.
Na verdade, não se trata fundamentalmente de recuperar, mas sim de criar efectivamente uma nova percepção de credibilidade e eficácia para a Assembleia da República. As legislaturas anteriores padeceram de uma imagem de inércia e de insuficiência em responder ao mandato que cada deputado, individualmente, e a Assembleia como um todo receberam face às expectativas e anseios do povo.
Outro aspecto crucial é a necessidade de a nova Assembleia da República se mostrar competente e bastante afecta aos problemas socioeconómicos actuais e aos desafios estruturais da sociedade moçambicana. É imperativo que os deputados compreendam profundamente as dinâmicas sociais, económicas e culturais que moldam o quotidiano dos cidadãos, oferecendo soluções legislativas concretas e eficazes. Esta competência deve ser demonstrada também no escrutínio da acção governativa e na promoção de uma cultura robusta de prestação de contas, assegurando que as decisões políticas estejam alinhadas às reais necessidades e expectativas da população.
A competência parlamentar deve traduzir-se na formulação de políticas que enfrentem problemas críticos, como a pobreza extrema, o desemprego crescente, as desigualdades regionais e a vulnerabilidade climática. Além disso, é necessário que a Assembleia demonstre capacidade de liderança na antecipação e gestão de crises, promovendo debates construtivos e acções legislativas que reflictam um compromisso genuíno com o desenvolvimento sustentável e a inclusão social.
O novo parlamento deve ser a fonte primordial da pacificação da sociedade e da promoção de valores como tolerância, concórdia e coexistência pacífica entre as diferentes formações políticas do país. Deve projectar, para o próprio País e para o mundo, a imagem de uma nação que supera sustentavelmente os seus desafios. Este parlamento, da X Legislatura, precisa buscar caminhos para a prosperidade geral de forma consistente e sistemática, inspirando os cidadãos a adoptarem os mesmos valores e esforços em prol de um futuro mais próspero e harmonioso.
Adicionalmente, deve-se combater de forma enérgica a imagem e a percepção de que a Assembleia da República é fundamentalmente um espaço de acomodação política e ganhos materiais individuais. Os deputados devem demonstrar, através de trabalho árduo e compromisso, que a sua presença no parlamento é motivada pela busca do bem comum e pelo atendimento às reais necessidades do povo moçambicano, reforçando a credibilidade e a legitimidade desta instituição.
Essa nova compostura da Assembleia da República torna-se ainda mais crucial após os incidentes pós-eleitorais que o País enfrenta, os quais acirraram divergências e catapultaram Moçambique para uma grave crise política e económica. A Assembleia deve assumir um papel central na construção de consensos e na formulação de soluções que respondam a essas crises, promovendo a estabilidade institucional e o desenvolvimento inclusivo como pilares de uma governação eficaz e responsável.
Essa proactividade será determinante diante de desafios complexos, como as desigualdades regionais, o desemprego crescente e a vulnerabilidade climática. É necessário que os deputados liderem o debate nacional sobre soluções práticas e inovadoras, promovendo o diálogo com diversos actores da sociedade civil, do sector privado e da academia para construir um futuro mais equitativo. Além disso, é essencial antecipar os impactos de transformações globais, como as dinâmicas tecnológicas e económicas, garantindo que Moçambique esteja preparado para as mudanças que moldarão o cenário internacional.
Este é o desafio e, simultaneamente, a oportunidade histórica que o novo parlamento moçambicano tem diante de si. O voto de confiança que foi dado não pode ser defraudado, pois ele representa o capital essencial para a transformação socioeconómica de que Moçambique e os moçambicanos tanto anseiam. Para ser reconhecida como uma instituição credível e produtiva, a X Legislatura deve adoptar uma abordagem que combine transparência, responsabilidade, inovação e compromisso com os interesses dos cidadãos.
A Assembleia da República carrega a responsabilidade de ser um motor de progresso e estabilidade, assumindo-se como uma entidade transformadora que concretize, com eficácia e coerência, as aspirações de um povo que exige mudanças profundas e sustentáveis.
Fonte: O Económico
