Resumo
A Organização Mundial de Saúde (OMS) enfrenta pressão financeira e operacional, com previsão de redução de ajuda externa para a saúde em países de rendimento médio-baixo entre 30% e 40%. A OMS planeia reduzir mais de 2 000 postos de trabalho, cerca de um quarto da sua força global, até meados de 2026, afetando equipas de resposta rápida e escritórios regionais. Esta reestruturação ocorre num contexto de exposição a surtos e ameaças à saúde pública. Em países com sistemas de saúde em consolidação e dependência de financiamento externo, a situação representa uma vulnerabilidade acrescida. Em Moçambique, a falta de acesso a cuidados essenciais e uma rede de saúde primária insuficiente tornam urgente a necessidade de apoio contínuo para programas como vacinação e vigilância de doenças, evitando assim riscos desnecessários para as comunidades.
A World Health Organization (OMS) enfrenta um período de forte pressão financeira e operacional. Em 3 de Novembro de 2025, a organização alertou que a ajuda externa para a saúde em países de rendimento médio-baixo poderá sofrer reduções entre 30 % e 40 % quando comparada com 2023, afectando directamente serviços essenciais como vacinação, cuidados maternos e vigilância epidemiológica. Poucos dias depois, em 18–19 de Novembro de 2025, tornou-se público que a OMS irá reduzir cerca de um quarto da sua força de trabalho global, mais de 2 000 postos, até meados de 2026, sendo que parte destes cortes recairá sobre equipas de resposta rápida e escritórios regionais.
Esta reestruturação ocorre num período em que o mundo permanece exposto a surtos, crises e ameaças persistentes à saúde pública. Para países onde os sistemas de saúde ainda se consolidam e dependem parcialmente de financiamento internacional, esta conjuntura representa uma vulnerabilidade agravada. A pandemia da Covid-19 demonstrou, de forma clara, que ameaças sanitárias não conhecem fronteiras e que sistemas frágeis ampliam os riscos para todos.
No caso de Moçambique, o alerta torna-se ainda mais urgente. O país continua a enfrentar desafios profundos no acesso a cuidados essenciais, e a sua rede de serviços de saúde primária permanece insuficiente para responder a emergências com a rapidez necessária. Uma eventual desaceleração do apoio técnico e financeiro externo pode afectar a continuidade de programas fundamentais, como vacinação, vigilância de doenças e saúde materno-infantil, deixando comunidades inteiras mais expostas a riscos evitáveis. Numa altura em que o progresso alcançado ainda é desigual, depender de uma estrutura internacional que começa a fraquejar representa um risco que não podemos ignorar.
O que está em causa, portanto, não é apenas a estrutura interna da OMS, mas também o impacto sistémico que a sua redução terá nos países que ainda não dispõem de capacidade plena para prevenir, identificar e responder a ameaças à saúde.
Este é um momento que exige atenção crítica e antecipação estratégica. O fortalecimento do financiamento doméstico, a integração de serviços de saúde e a cooperação regional podem atenuar o impacto das mudanças globais. Contudo, estas medidas só produzirão resultados se forem adoptadas com urgência e com visão de longo prazo. Ignorar os sinais de alerta, na esperança de que o apoio externo volte a crescer, seria correr um risco demasiado elevado.
A saúde pública vive de preparação, agir tarde custa vidas. Neste novo cenário internacional, proteger os avanços alcançados dependerá menos daquilo que o mundo pode fazer por nós, e mais daquilo que somos capazes de construir internamente.






