Por: Alda Banze
A realidade da desindustrialização em Moçambique, outrora um vibrante polo industrial da África Austral, levanta questões críticas sobre as escolhas económicas pós-independência e o futuro do país. O legado de fábricas abandonadas e uma indústria em declínio contam uma história complexa de desafios e oportunidades perdidas.
Durante as décadas de 60 e 70, Moçambique era um centro industrial de destaque na África Austral, com fábricas como por exemplo a Mabor (pneus), Tudor (baterias), Textáfrica e Vidreira de Moçambique, exportando para países vizinhos e além-mar. Essa pujança industrial, concentrada na zona industrial de Maputo e outras regiões estratégicas, representava um pilar fundamental da economia.
Contudo, hoje, grande parte dessas fábricas são meros esqueletos de betão e ferro, tomadas pelo mato, abandonadas e esquecidas. Esse cenário é um testemunho da desindustrialização que se seguiu à independência nacional em 1975.
A Promessa Quebrada da Independência
A independência, em 1975, trouxe consigo uma nova esperança e autodeterminação. No entanto, a substituição do poder colonial por um poder nacional não veio acompanhada de um plano de continuidade industrial. Pelo contrário, muitas fábricas fecharam as portas poucos anos após a independência, e outras sucumbiram à má gestão, à guerra civil e à fuga de quadros técnicos qualificados.
A retórica de que “o colono levou consigo as chaves das fábricas” revela uma falha crítica em reconhecer a responsabilidade interna. Em muitos casos, a falta de conhecimento técnico para manter as máquinas em funcionamento, a indisciplina de gestão e a ausência de uma visão estratégica para sustentar a indústria como motor do desenvolvimento foram factores determinantes para a sua queda.
O Modelo Económico e Suas Consequências
O modelo económico marxista-leninista adotado nos primeiros anos de independência, com forte controlo estatal sobre os meios de produção, agravou a situação. Além da ineficiência do modelo, a escassez de capacidade técnica e humana para gerir as complexas operações industriais tornou-se um problema ainda maior. O voluntarismo político e a realidade dura da gestão industrial resultaram na perda de fábricas, empregos e, com eles, o músculo económico que outrora fez de Moçambique um dos maiores gigantes industriais da região.
Investimentos Perdidos e Tentativas Falhadas de Reabilitação
Com a transição para a economia de mercado, alguns investidores demonstraram interesse em reabilitar antigas fábricas e injetar nova vida nas infraestruturas abandonadas. No entanto, os investimentos realizados revelaram-se insuficientes para reequipar as unidades industriais e colocá-las plenamente em funcionamento. Consequentemente, muitas tentativas de revitalização ficaram pelo caminho, deixando fábricas fechadas e infraestruturas abandonadas.
O Futuro da Indústria Moçambicana: Um Cenário Incerto
Diante desse cenário desolador, a grande pergunta que se coloca é: ainda há tempo para recuperar as indústrias estratégicas que poderiam projetar Moçambique para novos patamares? Quais ações concretas estão a ser implementadas para reverter essa tendência? Ou as estruturas abandonadas estão destinadas a transformar-se em meras lembranças de um passado glorioso, esquecidas e desprezadas?
Não se trata de romantizar o colonialismo ou ignorar as injustiças e feridas históricas que ele causou. Trata-se, antes, de reconhecer que, ao invés de rejeitar por completo tudo o que foi herdado do período colonial, deveríamos ter aprendido a preservar e aproveitar o que funcionava, incluindo as infraestruturas e as fábricas. Embora tenham sido construídas por outros, essas indústrias poderiam ter servido de base valiosa para impulsionar a economia nacional.
A ideia de que “o colono levou consigo as chaves das fábricas” é simplista e enganosa. A verdade é que a Moçambique faltou o conhecimento técnico e a capacidade de manter o que foi deixado. O futuro industrial do país dependerá de uma análise crítica do passado, de decisões estratégicas no presente e de um compromisso firme com a revitalização para evitar que as ruínas actuais sejam o epitáfio da outrora próspera indústria moçambicana.