Questões-Chave:
· AGRA e Governo de Moçambique articulam-se para enfrentar desafios de financiamento, capacitação e mecanização agrícola;
· Estratégia prevê gerar um milhão de jovens agricultores até 2028, com 200 mil empregos já na fase inicial;
· Acesso à terra, irrigação e criação de um banco agrícola são reivindicações prioritárias;
· A integração jovem é vista como motor de desenvolvimento económico e estabilidade social.
A agricultura voltou ao centro das atenções como um dos pilares da transformação económica em Moçambique. A AGRA – Aliança para a Revolução Verde em África – e o Governo moçambicano avançam com uma estratégia que visa integrar a juventude nos sistemas agro-alimentares, atacar os principais entraves do sector e criar até um milhão de empregos jovens até 2028.
Num contexto em que o Presidente da República, Daniel Chapo, defende a diversificação económica e a aposta na agricultura como solução para os desafios estruturais do país, a intervenção da AGRA ganha dimensão estratégica. A organização, em parceria com a Fundação Mastercard, realizou uma convenção nacional de jovens para delinear caminhos concretos de inclusão produtiva.
Segundo Litos Raimundo, director da AGRA em Moçambique, “os jovens enfrentam juros elevados, dificuldades no acesso a terra e falta de apoio institucional”. Para mitigar este quadro, a estratégia prevê:
· Criação de um banco agrícola com linhas de financiamento adaptadas à realidade do sector;
· Capacitação técnica, sobretudo nas regiões de Beira, Nacala, Chimoio e Vale do Zambeze, com enfoque na produção de insumos, prestação de serviços e tecnologias agrícolas;
· Integração em cadeias de valor, com enfoque em culturas de rendimento e agro-indústrias lideradas por jovens;
· Promoção de sistemas de irrigação, para reduzir a dependência do ciclo chuvoso;
· Aposta na mecanização, numa lógica de escala e produtividade.
Lineu Candeiro, também orador no evento, afirmou que “a agricultura é o presente e o futuro”, sublinhando que os jovens devem “aprender a fazer” e não apenas beneficiar. A perspectiva da AGRA é clara: inserir a juventude no coração da economia rural é condição para romper com ciclos de pobreza e exclusão.
Perspectiva Estratégica
O momento é propício. O próprio Chefe de Estado apontou, recentemente, a agricultura como uma das âncoras da nova estratégia de desenvolvimento económico. Ao destacar a necessidade de mobilizar investimentos em sectores não extractivos,
como a agricultura, o turismo e a energia, Daniel Chapo prepara o terreno para que iniciativas como a da AGRA ganhem escala e respaldo político.
Esta convergência entre a estratégia presidencial e as iniciativas da sociedade civil e parceiros internacionais pode gerar resultados sistémicos, sobretudo se acompanhada de medidas concretas como:
· Simplificação do acesso à terra;
· Revisão da política de crédito rural;
· Criação de zonas de produção de base juvenil;
· Abertura de mercados preferenciais para jovens agricultores.
O envolvimento da juventude na agricultura não é apenas uma questão de inclusão social — é uma estratégia de transformação estrutural. A aposta da AGRA, com metas ambiciosas e foco territorial, pode representar um divisor de águas se for bem articulada com as políticas públicas e prioridades nacionais. No cruzamento entre juventude, produtividade e soberania alimentar, desenha-se uma oportunidade para redefinir o futuro económico de Moçambique.
Fonte: O Económico