Em 2024, o comércio internacional alcançou níveis recordes, atingindo 33 biliões de dólares, impulsionado por economias emergentes. Contudo, o aumento das políticas proteccionistas, a alteração nas cadeias globais de valor e as tensões geopolíticas representam ameaças significativas à continuidade deste crescimento, gerando preocupações sobre uma possível fragmentação económica global.
O mais recente relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) revela que, apesar do recorde histórico de 33 biliões de dólares atingido em 2024, o comércio global enfrenta múltiplos desafios em 2025. A expansão foi principalmente impulsionada por economias emergentes, especialmente na Ásia e América Latina, enquanto economias avançadas como as europeias e norte-americanas experimentaram uma desaceleração considerável.
Uma das principais ameaças identificadas pela UNCTAD é o aumento das políticas proteccionistas. Estas políticas incluem tarifas elevadas, subsídios industriais e restrições comerciais impostas por economias avançadas como os Estados Unidos e a União Europeia. Essas medidas têm provocado retaliações, criando barreiras adicionais ao comércio e ameaçando desestabilizar as cadeias globais de abastecimento.
A crescente fragmentação económica é um risco concreto, potencialmente levando à formação de blocos comerciais isolados, prejudicando o crescimento económico geral e a integração comercial global. Este cenário de fragmentação poderia reverter avanços importantes feitos em anos anteriores na integração económica regional.
Além disso, enquanto o comércio de serviços continua robusto, com crescimento anual de cerca de 9%, sectores tradicionais como bens manufacturados enfrentaram uma desaceleração significativa no último ano, crescendo apenas 2%. A vulnerabilidade do comércio de bens está relacionada directamente a desafios logísticos, incertezas tarifárias e diminuição da procura industrial em algumas regiões.
A mudança estratégica nas cadeias de abastecimento é outro aspecto central destacado pela UNCTAD. A tendência de nearshoring e friendshoring, inicialmente adoptada como resposta às tensões geopolíticas, evoluiu para estratégias mais abrangentes de diversificação regional. Empresas estão agora distribuindo as suas operações por diferentes regiões geográficas para mitigar riscos específicos, adicionando complexidade às operações comerciais globais.
Adicionalmente, persistem desequilíbrios comerciais significativos. O défice comercial dos Estados Unidos com a China atingiu 355 mil milhões de dólares em 2024, e o défice com a União Europeia também cresceu. Em contraste, a China alcançou o maior excedente comercial desde 2022, enquanto a União Europeia transitou para um excedente impulsionado por flutuações nos preços energéticos.
A UNCTAD sublinha que países em desenvolvimento enfrentam desafios específicos devido a tarifas elevadas aplicadas especialmente nos sectores agrícolas e têxteis. A média tarifária para produtos agrícolas importados de países em desenvolvimento chega a quase 20%, enquanto produtos têxteis enfrentam tarifas próximas dos 6%, limitando significativamente a competitividade destas economias nos mercados internacionais.
Para enfrentar estas ameaças, a UNCTAD recomenda fortemente a adopção de políticas comerciais equilibradas e multilaterais. Destaca-se a necessidade urgente de cooperação internacional efectiva para garantir a sustentabilidade e estabilidade do comércio global, protegendo economias vulneráveis e evitando danos económicos a longo prazo.
Fonte: O Económico