Mais de meia centena de jogadores contratados sem relatório de observação ou «racional para a decisão», comissões desproporcionais, preferência por determinados clubes e agentes.
São vários os negócios escrutinados nas 390 páginas da auditoria forense feita pela Deloitte às contas da SAD do FC Porto, a pedido da administração de André Villas-Boas.
De acordo com o documento, a que o Maisfutebol teve acesso, há casos surpreendentes de reforços que acabaram por não o ser. E, neste capítulo, destacam-se mais de uma mão cheia de negócios com o Portimonense.
Um dos casos mais conhecidos pelos adeptos é o de Samuel Portugal [na foto do artigo], guarda-redes que não fez qualquer minuto pela equipa principal, desde que foi contratado em setembro de 2022. Nessa data, a SAD do FC Porto adquiriu 20 por cento dos direitos económicos por um milhão de euros, aos quais se acresceram mais 35 por cento por 1,5 milhões, em dezembro de 2022, e outra parcela igual pelo mesmo valor, em agosto de 2023. Tudo isto perfazendo um investimento total de quatro milhões por 90 por cento do passe do guardião brasileiro, que apresentou um valor de mercado a rondar o milhão e meio de euros no total.
Menos famoso, mas não menos surpreendente é o caso de Gleison, que em abril de 2016 teve metade do passe adquirido por um milhão de euros, numa altura em que tinha um valor de mercado de 75 mil euros. O extremo brasileiro acabou por regressar ao Portimonense, após vários empréstimos, a troco de 100 mil euros (por 50 por cento do passe), em junho de 2019, quando já apresentava um valor de mercado de 600 mil euros. Hoje, Gleison, com 29 anos, joga no Barém.
Já Musa Yahaya foi adquirido em maio de 2016 por 750 mil euros, respeitantes a 45 por cento dos direitos económicos (quando tinha um valor de mercado de 25 mil euros), tendo saído a custo zero em junho de 2020. Aos 27 anos, o defesa nigeriano joga em Montenegro e tal como Gleison nunca representou a equipa principal dos dragões.
Tal como o avançado português Rui Costa, hoje a jogar no Cazaquistão, que foi comprado para a equipa B por 1,5 milhões de euros (50 por cento dos direitos económicos), quando tinha um valor de mercado de 750 mil, e acabou por sair a custo zero em setembro de 2020, sem nunca jogar pela equipa A.
Mais proveito desportivo tirou o FC Porto das contratações de Manafá e Bruno Costa ao Portimonense.
O lateral foi adquirido em janeiro de 2019 a troco de 3 milhões de euros por 60 por cento do passe, tendo os restantes 40 por cento custado quatro milhões, em janeiro de 2021. Manafá acabaria, porém, por sair a custo zero em junho de 2023.
Por sua vez, Bruno Costa teve ida e volta até ao Algarve num negócio em que o FC Porto ficou a perder financeiramente. Formado nos dragões, o médio foi vendido ao Portimonense SAD em janeiro de 2020, por dois milhões de euros, tendo sido recomprado em junho de 2021 por 2,5 milhões, mas por apenas 50 por cento do passe. O jogador acabaria por sair a custo zero, em setembro de 2023, e agora representa o Nacional da Madeira, que na última jornada venceu o FC Porto (2-0).
Todos estes negócios são detalhados no extenso relatório em que o FC Porto revela que pagou mais 50 milhões de euros do que deveria nas últimas cinco épocas da gestão de Pinto da Costa.
De acordo com o documento, a SAD portista pagou um total de 155,8 milhões de euros em comissões, quando este valor deveria ascender a um máximo de 105,9 milhões, caso fossem respeitados os limites FIFA e valores de mercado: cerca de 10 por cento do valor de transação para entradas/saídas e 3 por cento para renovações.
O documento analisou 879 movimentos relacionados com negócios de jogadores e registou um impacto negativo de 47 por cento de comissões em excesso, nos cinco últimos anos de gestão de Pinto da Costa.
O clube revela que fez uma análise aprofundada de 55 contratações e que, destas, 51 «não foram suportadas por qualquer relatório de scouting ou justificação», tendo 41 «apresentado comissões acima dos referenciais FIFA e/ou dos standards de mercado».
Além deste cenário, foram identificados pagamentos de comissões pendentes relativos a 23 jogadores, representando um total de 15,8 milhões de euros em incumprimento.
Fonte: Mais Futebol