Fed Mantém Taxas Estáveis Mas Antevê Dois Cortes em 2025: Decisão Reacende Debate Entre Contenção Inflacionária e Estímulo Económico

0
54

Questões-Chave

A Reserva Federal manteve inalterada a sua taxa de juro directora nesta quarta-feira, mas reiterou a previsão de realizar duas reduções até ao final de 2025. A medida surge num momento de elevada incerteza, com projecções de inflação em alta, crescimento económico em baixa, e tensões comerciais e geopolíticas em crescendo. A decisão, embora esperada, reacendeu o debate nos meios financeiros e empresariais sobre o equilíbrio entre contenção da inflação e a necessidade de estimular uma economia cada vez mais fragilizada.

Reacções nos Mercados e no Sector Financeiro

Nos mercados financeiros, a decisão do Fed foi acolhida com contenção: os principais índices accionistas oscilaram marginalmente, reflectindo um sentimento de expectativa. Para os analistas, o sinal mais relevante não foi a manutenção da taxa, mas a reafirmação da previsão de dois cortes este ano, apesar do cenário inflacionário desfavorável.

Chris Zaccarelli, da Northlight Asset Management, sintetizou a percepção de parte do mercado ao afirmar que a Fed “está de mãos atadas, à espera de ver se as tarifas aumentam a inflação ou se o mercado de trabalho começa a deteriorar”.

Sector Empresarial e Industrial: Alerta para a Pressão de Custos

Entre os sectores produtivos, a perspectiva é de pressão ascendente nos custos operacionais. A retoma de tarifas comerciais — parte da agenda proteccionista de Donald Trump — tem vindo a gerar disfunções nas cadeias de abastecimento, aumento de preços de matérias-primas e margens comprimidas.

Empresas do sector industrial e retalhista alertam que terão de transferir parte desses custos para o consumidor final, mas temem um efeito negativo na procura. Powell confirmou esse cenário ao afirmar que “muitas empresas estão a planear repassar os custos das tarifas ao longo da cadeia, até ao consumidor”.

Habitação e Consumo: Impacto Directo na Confiança do Consumidor

A confiança do consumidor — motor de dois terços da economia americana — começa a dar sinais de fadiga. Dados recentes revelam uma queda abrupta nas vendas a retalho em Maio (quase -1%) e um arrefecimento do mercado imobiliário, com níveis de construção residencial no ponto mais baixo em cinco anos.

O sector da habitação, altamente sensível às taxas de juro, vê nesta pausa um alívio momentâneo, mas teme que a persistência de custos elevados e a incerteza fiscal prolonguem o ciclo de estagnação do investimento.

Economistas Debatem Cenário de Estagflação

Para muitos analistas, o quadro que se desenha é o de uma estagflação moderada — crescimento lento, desemprego crescente (projectado em 4,5%) e inflação elevada (3%). Neste contexto, o espaço de manobra da Fed torna-se reduzido: baixar taxas pode alimentar ainda mais a inflação, mas mantê-las elevadas pode agravar o abrandamento económico.

Kathryn Adams, da Brookings Institution, afirma que “a Fed enfrenta um dilema clássico: intervir demasiado cedo e arriscar reacender a inflação, ou esperar demasiado e mergulhar a economia numa recessão evitável.”

Contexto Geopolítico e Fiscal Acentua Incerteza

A decisão da Fed também foi condicionada por riscos exógenos, nomeadamente a escalada do conflito entre Israel e Irão, com impacto nos preços da energia, e o peso crescente da dívida pública dos EUA, que se aproxima dos 2 biliões de dólares de défice, com 1,2 biliões destinados apenas ao pagamento de juros.

A pressão fiscal é particularmente acentuada pela política agressiva de gastos da Administração Trump, que continua a exigir cortes nas taxas como forma de reduzir os encargos do Tesouro norte-americano.

Uma Estratégia de Espera com Margem Estreita

Jerome Powell foi claro ao afirmar que “todos os cenários estão dependentes dos dados” e que “nenhum trajecto de taxa é definitivo neste momento”. A Fed parece, assim, optar por uma abordagem vigilante, sem comprometer-se antecipadamente.

<

p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Enquanto isso, os vários sectores económicos e os mercados aguardam com expectativa a evolução do segundo semestre, certos de que qualquer novo movimento da Fed poderá ter impactos profundos numa economia em encruzilhada.

Fonte: O Económico

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!